Voo VASP 375 | |
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Boeing 737-300 da VASP, semelhante ao envolvido no acidente. | |
Sumário | |
Data | 29 de setembro de 1988 (35 anos) |
Causa | Sequestro por tentativa de ataque terrorista e pane seca |
Local | Aeroporto Internacional de Goiânia, Goiânia, Goiás, Brasil |
Origem | Aeroporto Internacional de Porto Velho, Rondônia |
Escala | |
Destino | Aeroporto Internacional do Galeão, Rio de Janeiro |
Passageiros | 98 |
Tripulantes | 7 |
Mortos | 1 (copiloto) |
Feridos | 3 |
Sobreviventes | 104 |
Aeronave | |
Modelo | Boeing 737-317 |
Operador | VASP |
Prefixo | PP-SNT |
Primeiro voo | 18 de março de 1986 |
O Voo VASP 375 foi uma rota comercial doméstica operada pela Viação Aérea São Paulo (VASP) utilizando um Boeing 737-317. Em 29 de setembro de 1988, a aeronave partiu do Aeroporto Internacional de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, e previsão de quatro escalas nos aeroportos de Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Na fase final do voo, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro da aeronave e ordenou os pilotos para desviar a rota em direção a Brasília, com o objetivo de colidir a aeronave contra o Palácio do Planalto, sede do Gabinete do Presidente do Brasil, devido a um descontentamento dele com ações políticas adotadas pelo presidente José Sarney.[1]
O sequestrador, identificado como Raimundo Nonato Alves da Conceição e que portava um revólver calibre .32, matou o copiloto Salvador Evangelista com um tiro na nuca após este tentar contato com o controle de tráfego aéreo. Após o sequestrador solicitar um novo desvio na rota, desta vez para São Paulo, o piloto executou uma manobra denominada "tonneau", onde a aeronave executa um giro completo através de seu eixo longitudinal, mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal manobra. A decisão de executar tal manobra ocorreu para tentar desequilibrar o sequestrador, e pousar no aeroporto de Goiânia, o que não ocorreu com sucesso então o piloto, quase sem combustível e próximo ao aeroporto de Goiânia, executou uma queda em parafuso de nove mil metros que desequilibrou e atordoou o sequestrador. O sequestrador, após exigir uma aeronave menor para fugir, foi baleado com três tiros pela equipe de elite da Polícia Federal, vindo a falecer alguns dias depois, vítima de anemia falciforme.[2][3]
O acidente, que obteve repercussão nacional e internacional, teve sua causa principal atribuída à falta de segurança nos aeroportos brasileiros na época, que não contavam com máquinas de raios-x e detecção de metais. O sequestro é o mais notório ocorrido no Brasil.[4]
O maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição nasceu em Vitorino Freire, vindo de uma família pobre do interior do Pará, e tinha um estilo de vida reservado e sem vícios. Foi tratorista em várias empresas de construção, e chegou a trabalhar em obras da empreiteira Mendes Júnior no Iraque.[5] Na época com 28 anos, havia sido demitido de uma obra, e ficou em situação difícil por não conseguir encontrar outro emprego. No final da década de 80, o Brasil enfrentava uma péssima fase econômica com elevados índices de desemprego e inflação.[6] Raimundo decidiu punir quem achava ser culpado pela má situação pela qual ele e o país passavam: o então presidente da República, José Sarney, lançando um avião contra o Palácio do Planalto, onde fica o Gabinete Presidencial.[2][7]
Raimundo comprou um revólver calibre .32 e embarcou no voo VP-375. É importante ressaltar que na época, aparelhos de raios-X e detectores de metal não eram utilizados para verificar bagagens no Aeroporto de Confins, o que permitiu a passagem livre do passageiro. O voo, que vinha de Porto Velho e fazia escala em Belo Horizonte, decolou às 10h52 e cerca de 20 minutos após a decolagem, com o avião já no espaço aéreo do Rio de Janeiro, Raimundo Nonato anunciou o sequestro: disse que queria entrar na cabine e baleou Ronaldo Dias, um comissário de bordo, quando este tentou impedi-lo. Na época a porta da cabine das aeronaves não era blindada e Raimundo disparou diversos tiros contra ela.[10][3] Um desses tiros acabou acertando o tripulante extra, Gilberto Renhe, que teve a perna fraturada. Outro disparo acabou acertando o painel do avião, o que fez a tripulação optar por abrir a porta para cessar os disparos. Sem que o sequestrador percebesse, o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva acionou pelo transponder o código 7500, que na linguagem da aeronáutica, indica interferência ilícita (sequestro). Quando tentava atender à resposta do CINDACTA pelo rádio, o co-piloto Salvador Evangelista foi baleado na nuca pelo sequestrador e morreu na hora. Em seguida, Raimundo apontou o revólver para o piloto e exigiu que a aeronave fosse desviada imediatamente para Brasília.
Persuadido pelo comandante que as condições de visibilidade não eram boas para aproximação em Brasília (tratava-se na verdade de uma estratégia do piloto para enganar o sequestrador),[11] Raimundo acabou desistindo de jogar o avião contra o Palácio do Planalto, mas impediu o comandante de pousar o avião quase sem combustível no Aeroporto Internacional de Brasília e na Base Aérea de Anápolis. O voo prosseguiu para Goiânia, a FAB colocou um Mirage III para interceptar e acompanhar o voo, pilotado pelo tenente Walter Ricardo Gallette.[12] Raimundo teria decidido então levar o Boeing para São Paulo, mas foi alertado por Fernando que não havia combustível para isso. Segundos depois um dos motores do avião começou a falhar e Fernando executou manobras acrobáticas nunca antes feitas com um avião daquele porte repleto de passageiros com a intenção de desequilibrar o sequestrador e pousar a aeronave.[2][13] A estratégia funcionou e Raimundo acabou sendo jogado para longe da cabine, mas assim que o avião estabilizou conseguiu ficar de pé e empunhar novamente a arma. O pouso em Goiânia, no Aeroporto Internacional Santa Genoveva aconteceu às 13h45. Em terra, o sequestro e as negociações continuaram por várias horas.[14]
O sequestrador chegou a exigir um avião menor para fugir, mas por volta das 19h, quando descia a escada do avião usando o comandante como escudo, acabou sendo baleado três vezes pela equipe de elite da Polícia Federal.[3] Morreu dias depois, vítima de anemia falciforme, sem relação com os tiros, segundo o legista Fortunato Badan Palhares.[15] Na época, a morte inesperada do sequestrador gerou a especulação de que ele teria sido morto com uma injeção letal aplicada pela própria polícia.[2]
O comandante Fernando Murilo foi condecorado com a Ordem do Mérito Aeronáutico na época do acidente, mas nunca recebeu um agradecimento oficial da presidência pelos seus feitos.[13] Em 2001, 13 anos após o acidente, o piloto recebeu o troféu Destaque Aeronauta do Sindicato Nacional dos Aeronautas por sua contribuição em evitar uma tragédia maior naquele dia.[16] Fernando faleceu em 26 de agosto de 2020, aos 76 anos, por insuficiência respiratória.[17][18]
Em 2011, a Infraero foi condenada em segunda instância a pagar uma indenização de R$250 mil para Wendy Evangelista, filha do co-piloto Salvador Evangelista que morreu no sequestro. A justiça considerou que a entrada de um passageiro com um revólver dentro do avião foi um erro grave, não existindo normas de segurança adequadas na época.[19]
Em 2000, o sequestro foi descrito no livro "Caixa-preta" do escritor brasileiro Ivan Sant'anna.[20]
A produtora Escarlate produziu em 2023 um filme sobre o caso, O Sequestro do Voo 375.[21] O filme foi gravado nos estúdios da antiga Companhia Cinematográfica Vera Cruz.[22]