Vianna da Motta
Vianna da Motta
Busto do compositor no Jardim do Torel, em Lisboa.
Informação geral
Nome completo José Vianna da Motta
Nascimento 22 de abril de 1868
Local de nascimento São Tomé, São Tomé e Príncipe
Reino de Portugal Portugal
Morte 1 de junho de 1948 (80 anos)
Local de morte Lisboa
Portugal Portugal
Ocupação(ões) compositor, instrumentista, professor de música
Instrumento(s) piano

José Vianna da Motta GOCGOSEGCSE, ou Viana da Mota segundo a ortografia vigente, (São Tomé, São Tomé e Príncipe, 22 de Abril de 1868Lisboa, 1 de Junho de 1948) foi um pianista, compositor, maestro e musicógrafo português.

Biografia

José Vianna da Motta (Union Postale Universelle).

José Vianna da Motta nasceu na ex-colónia portuguesa São Tomé. Pouco tempo depois, viajou para Lisboa com os seus pais, José António da Motta, um farmacêutico, e Inês de Almeida Vianna, onde veio a estudar no Conservatório Nacional de Lisboa, então designado Conservatório Real de Lisboa. Revelou cedo uma grande proficiência para a música, particularmente para o piano, tendo composto a sua primeira peça musical com 5 anos de idade.

Por iniciativa do seu pai, foi levado à corte em 1874 tendo com isso obtido o patrocínio dos seus estudos pelo rei D. Fernando II e sua esposa, a Condessa de Edla. Até 1882, apresentou-se várias vezes não só em recitais privados mas também em recitais públicos, nomeadamente no Salão da Trindade. Durante esse período, compôs dezenas de obras - sobretudo para piano solo - dos mais variados géneros: valsas, mazurcas, polcas, marchas, fantasias, etc.

Após concluir os seus estudos no Conservatório Nacional em 1882, partiu para Berlim, custeado pelo real mecenas, ingressando no Conservatório Scharwenka onde teve aulas de piano com Xaver Scharwenka e aulas de composição com o irmão Philipp Scharwenka. Estudou paralelamente com Carl Schaeffer, membro da Sociedade Wagneriana que exerceu grande influência em Vianna da Motta, a julgar pelo conteúdo dos seus diários.

No verão de 1885, frequentou um estágio de piano de Franz Liszt em Weimar tendo por isso sido um dos últimos alunos do mestre húngaro. Parte dessa experiência é relatada por Vianna da Motta nas suas obras literárias A Vida de Liszt e Música e músicos alemães: Recordações, ensaios, críticas. Em 1887, frequentou o curso de interpretação de Hans von Bülow em Frankfurt am Main, experiência descrita por Vianna da Motta na sua correspondência e posteriormente publicada na obra literária Nachtrag zu Studien bei Hans von Büllow von Theodor Pfeiffer.

Durante a sua carreira de pianista concertista, que arrancou verdadeiramente no ano de 1887, Vianna da Motta deu mais de mil concertos por todo o mundo - muitos dos quais perante presidentes, Reis e Imperadores - nomeadamente na Alemanha, em Portugal, em França, em Espanha, em Inglaterra, em Itália, na Dinamarca, no Brasil, na Argentina, no Uruguai, nos Estados Unidos, em Marrocos, na Rússia, etc. Destacou-se no quadro dos distintos pianistas da sua época sendo particularmente elogiado, pela imprensa e pela crítica, nas suas interpretações de Bach, Beethoven e Liszt. Tocou com músicos célebres da época, tais como Pablo de Sarasate, Guilhermina Suggia, Alice Barbi, Tivadar Nachéz, Enrique Fernández Arbós, Bernardo Moreira de Sá, Eugène Ysaÿe, etc. Foi amigo próximo de Ferruccio Busoni e Isidor Philipp e contactou com diversas personalidades do mundo da música, tais como Alfred Cortot.

Fez parte da Maçonaria, tendo sido iniciado na Loja Ave Labor, do Porto, com o nome simbólico de Bontempo.[1]

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Vianna da Motta viu-se obrigado a abandonar a sua residência em Berlim e, em 1915, instalou-se em Genebra. Aí dirigiu a classe de virtuosidade da Escola Superior de Música até 1917, ano em que regressou definitivamente a Portugal. À sua chegada a Lisboa, fundou a Sociedade de Concertos da qual foi o primeiro director artístico. Assumiu, em 1919, o cargo de director do Conservatório Nacional de Lisboa que manteve até ao ano de 1938. No primeiro ano do exercício dessa função, e com a colaboração de Luís de Freitas Branco, procedeu à reforma do ensino da música aí praticado modernizando os seus programas e métodos pedagógicos. Exerceu também o cargo de director musical da Orquestra Sinfónica de Lisboa entre 1918 e 1920.

Realizou inúmeras primeiras audições em Portugal de obras há muito consagradas - como a integral das 32 sonatas de Beethoven, no centenário da sua morte assinalado em 1927 - e de obras de compositores seus contemporâneos. Publicou assiduamente artigos em revistas especializadas alemãs e portuguesas sobre técnica e interpretação pianísticas, assim como estudos acerca da música de Wagner e Liszt. Colaborou na revista A Arte Musical [2] (1898-1915) e na revista Lusitânia [3] (1924-1927).

Entre os seus discípulos destacam-se os pianistas José Carlos Sequeira Costa, Maria Helena Sá e Costa, Maria Manuela Araújo, Elisa de Sousa Pedroso, Campos Coelho, Maria Cristina Lino Pimentel, Marie Antoinette Aussenac, Nella Maissa, Guilherme Fontainha, Maria da Graça Amado da Cunha, Fernando Corrêa de Oliveira, Luiz Costa, o musicólogo João de Freitas Branco e o compositor Fernando Lopes-Graça.

José Vianna da Motta foi importante para a História da Música em Portugal no âmbito da "música de concerto", por lhe caber o mérito da primeira procura e criação consciente de "música culta" de carácter nacional. São disso testemunho a sua obra mais relevante a Sinfonia "À Pátria" (que apresenta também a inovação entre nós do conceito lisztiano de música programática e em que, ao que parece, um compositor português usa pela primeira vez numa sinfonia, temas genuínos do folclore português), as suas composições pianísticas, as suas canções para canto e piano.

Na Alemanha foi-lhe concedido o título de "Hofpianist" (pianista da Corte) por Carlos Eduardo de Saxe-Coburgo-Gota. Foi Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (28 de junho de 1920), Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo (19 de abril de 1930) e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2 de junho de 1938).[4]

Casou primeira vez com Margarethe Marie Lemke (Karlsruhe, Heidelberg, 31 de março de 1858 - Leipzig, 1900), filha de Julius Lemke (1828-1905) e de sua mulher Agnes Eckhardt (1831-1880), sem geração. Casou segunda vez com Anna Johanna Maria Harden, sem geração, e terceira vez com a actriz Berta de Bívar, de quem teve duas filhas, e de quem se divorciou.

Faleceu em 1948, em Lisboa, tendo vivido os últimos anos da sua vida na residência de sua filha Inês de Bivar Vianna da Motta e do seu genro, o psiquiatra Henrique João de Barahona Fernandes. A sua outra filha, Leonor Micaela de Bivar Vianna da Motta, nascida em Buenos Aires, casou com João Apolinário Sampaio Brandão, com geração.

Foi sepultado no Cemitério do Alto de São João, sendo homenageado em 1 de Outubro de 2016, com a sua trasladação para um jazigo novo no Cemitério dos Prazeres.

Legado

Composições

José Vianna da Motta dedicou-se à composição desde muito cedo. A sua primeira composição, intitulada Primeira inspiração musical, data de 1873 quando tinha apenas 5 anos de idade. Durante a sua infância, até aos seus 14 anos de idade, Vianna da Motta compôs mais de cinquenta peças, sobretudo para piano solo. Estas peças de infância, compostas entre 1873 e 1883, são representativas da primeira fase criativa do compositor, fase essa que se caracteriza sobretudo pela composição de peças de baile, marchas, variações e fantasias sobre temas populares de óperas.[5]

Obras de infância para piano solo (selecção)

A segunda fase criativa do compositor (de 1884 a 1895, sensivelmente) coincide com o período de formação na Alemanha e é por isso marcada pela influência germânica. Ela caracteriza-se essencialmente pela composição de peças para piano, de obras concertantes, música de câmara e Lieder. A terceira fase criativa caracteriza-se pelo recurso à canção tradicional portuguesa. Esta fase nasceu logo após o Ultimato britânico de 1890 com a composição da 1ª Rapsódia Portuguesa, obra inspirada em fados e dedicada ao então Rei de Portugal, o Rei D. Carlos. A partir de 1908, Vianna da Motta abandonou quase por completo a composição, talvez por discordar das novas tendências modernistas que vingavam por toda a Europa.[6]

Obras para piano solo (selecção)

Obras para piano a quatro mãos

Obras para piano e orquestra

Obras para música de câmara (com piano)

Obras para canto e piano (selecção)

Obras para quarteto de cordas

Obras para orquestra

A Sinfonia "À Pátria" é geralmente considerada a obra-prima de Vianna da Motta. Foi a primeira sinfonia a merecer as honras de impressão em Portugal. Ela é inspirada em versos de Luís Vaz de Camões e segue o modelo formal clássico das sinfonias de Beethoven: quatro andamentos, dos quais o terceiro é um scherzo. No terceiro andamento o compositor utiliza duas canções populares portuguesas. Daqui depreende-se que nem sempre é fácil traçar a fronteira entre a segunda e a terceira fase criativa do compositor. Com efeito, várias das suas obras resultam claramente do cruzamento das culturas alemã e portuguesa, da importância que teve a sua formação musical na Alemanha e da necessidade de expressar o seu patriotismo por via do recurso à música tradicional portuguesa.

Revisões e edições musicais

Em 1913, a editora Breitkopf & Härtel encarregou Vianna da Motta de escrever as notas de revisão dos volumes IV a X[7] para a primeira edição completa das obras de Franz Liszt. Este foi um trabalho que Vianna da Motta realizou a par com Ferrucio Busoni. Segue uma lista de algumas das obras para piano de Franz Liszt editadas por Vianna da Motta:

Viana da Motta também se interessou pela edição de obras de outros compositores, como Beethoven, Chopin ou Schumann, pela publicação de estudos de Czerny e Heller e de exercícios de técnica inspirados em obras de Charles-Valentin Alkan.

Obra literária

A correspondência e os diários de Vianna da Motta têm sido objeto de estudo por parte de alguns musicólogos e investigadores. Segue uma lista das suas publicações:

Gravações

Por volta de 1927, Vianna da Motta gravou para a casa Pathé obras para piano a solo de Busoni, Schubert, Chopin, Liszt e também composições suas. Estas gravações são difíceis de obter. Elas foram editadas em 1995 pela etiqueta Dante que, entretanto, faliu.

Discografia com obras de Vianna da Motta

A maior parte dos registos que se seguem não são exclusivamente de obras de Vianna da Motta, mas sim de selecções de obras feitas pelos intérpretes nas quais se encontram algumas obras deste. Na lista que se segue foram também incluídas as gravações que Vianna da Motta fez das suas obras.

Ver também

Bibliografia

Referências

  1. Oliveira Marques, A. H. (1985). Dicionário da Maçonaria Portuguesa. Lisboa: Delta. p. 1006 
  2. Rita Correia (6 de novembro de 2017). «Ficha histórica:A Arte Musical (1898-1915)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 5 de dezembro de 2017 
  3. Rita Correia (5 de Novembro de 2013). «Ficha histórica: Lusitania : revista de estudos portugueses (1924-1927)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Dezembro de 2014 
  4. http://www.ordens.presidencia.pt/
  5. «Viana da Mota - Século XX - Centro Virtual Camões - Camões IP». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 20 de agosto de 2017 
  6. DELGADO, Alexandre (2002). A sinfonia em Portugal. Lisboa: Caminho da Música. p. 66 
  7. CASCUDO, Teresa; TRINDADE, Maria Helena (1998). José Vianna da Motta: 50 anos depois da sua morte. Lisboa: Instituto Português de Museus. p. 35 
  8. WASSERMANN BEIRÃO, Christine (2015). Diários (1883-1893). Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal: Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. p. 13 

Ligações externas